Como é a relação do negro com o esporte? Vamos traçar uma linha do tempo e bater um papo com a jornalista Mia Lopes sobre sua experiência, como negra, jornalista e praticante de esporte. Fazer uma conexão de sua trajetória e a história que vem sendo escrita a anos no universo do esporte brasileiro.
No final de 2019 Mia decidiu que o esporte iria tomar um espaço maior em sua vida, além do lazer iria ser seu compromisso profissional, então criou um espaço para trazer pessoas pretas para este universo, notando que falta espaço da mídia em geral que faça o papel de contar as historias de atletas negros, surgiu o então AfroEsporte.

“Quando falava que gostava e trabalhava com esporte, mesmo sendo jornalista fui perguntada; Mas o que você é? Perguntei quem sou eu? E fui estudar o currículo do Galvão Bueno para então saber quais cursos ele fez de pós graduação que eu possa fazer também, então notei que Galvão era um jornalista com afinidade em esporte assim como eu!
Onde provoca desconforto é um lugar potente!”
Mia nos contou um pouco sobre seu início com relação ao esporte, que começou ainda na adolescência quando conheceu o boxe e o praticou dos 14 aos 16 anos. Após esse período, mesmo sem praticar continuava a acompanhar esse universo de lutas de boxe e também UFC. Passados alguns anos, um questionamento de uma amiga lhe tirou de sua zona de conforto; O por que conhecia tanto sobre esportes e suplementos para ganhar massa, mas não o praticava?
O povo preto não ocupa esses espaços porque estão lutando por coisas básicas
O primeiro passo foi dado então após sua iniciativa de retornar às práticas esportivas quando tentava trazer suas amigas pretas para este mesmo universo, mas não surtia efeito, e no início acreditava que era por preguiça, até que entendeu que o povo preto não possuía de alguns privilégios, Mia praticava esportes com amigos que eram brancos e tinham um elevado padrão de vida que os permitiam uma dedicação maior aos momentos de lazer. Observou que as pessoas que iam ao porto da barra, em Salvador para nadar às 5h da manhã eram pessoas que possuíam carros e já tinham sua vida organizada, exemplificou que uma pessoa sem tais comodidades teriam uma enorme dificuldade em sair de manhã, pegar às vezes um único ônibus que passa nesse horário, sem contar o tempo gasto no percurso.
Afirma que percebeu que além do povo preto lutar por coisas básicas como comida no prato elas ainda não se sentiam pertencentes, não se viam nesse mesmo ambiente pois ainda há dogmas e valores enraizados, e notou que existia um paradoxo; de um lado grandes atletas negros na historia e do outro lado havia negros que não se viam ocupando aquele espaço.
Já que as pessoas não se sentem pertencentes, vamos contar essas histórias
Atenta a este universo o AfroEsporte veio para conectar histórias, que não são contadas devidamente. A Jornalista ainda citou que as pessoas conhecem Airton Sena e não conhecem ou se lembram de João do Pulo, então a partir da criação de conteúdo, fortalecimento dos atletas negros dentro do universo do esporte e sendo valorizados ela busca fazer esse resgate.

João Carlos de Oliveira, o João do Pulo foi recordista mundial do salto triplo, tetracampeão olímpico e também tetracampeão pan americano e no salto em distância. Bateu o recorde mundial do salto triplo em 1975 com a marca de com a incrível marca de 17,89 m, que foi superado dez anos depois.
teve a carreira de atleta brutalmente interrompida em 1981, quando sofreu um grave acidente automobilístico, ficou por quase um ano hospitalizado na UTI e teve sua perna direita amputada. Entrou para a política conseguindo ser deputado estadual de São Paulo.
João do Pulo faleceu em 1999, sofrendo de depressão e problemas financeiros.
As pessoas conhecem mais o Sena do que o João do Pulo
Criado no final de 2019, o projeto teve grande repercussão durante a cobertura dos Jogos de Tóquio que ocorreu entre julho e agosto de 2021, principalmente no LinkedIn, onde Mia destacou a eliminação da seleção feminina como um dos momentos mais marcantes das Olimpíadas e citou um dos seus posts mais comentados que foi sobre a despedida da formiga após 7 participações em olimpíadas e questionou a forma que foi a despedida de formiga, de forma apagada mesmo batendo recorde em participações em edições de Jogos Olímpicos.

Formiga foi duas vezes vice-campeã olímpica e uma vez vice-campeã mundial é a única pessoa do mundo a ter participado, como atleta, de 7 Copas do Mundo (incluindo homens e mulheres) e 7 edições dos Jogos Olímpicos
Perguntada sobre um futuro melhor no esporte e como diminuir o racismo e atrair mais negros pra a prática, a jornalista cita que o esporte nas escolas e importante porque forma lideres e conclui que para é preciso ter atletas dentro das camadas de poder , ter pessoas como apresentadores e comentaristas para que as pessoas possam se identificar se sentirem confortáveis ao ingressar neste universo.
Sobre os dados do último Censo sobre a educação;
De acordo com o Censo Escolar de 2020, somente 34% das escolas públicas têm quadra de esportes. Nas instituições privadas, o percentual é de 44%.Instituições que contemplam todos os níveis de aprendizagem, até o ensino médio, são as que oferecem mais infraestrutura esportiva: 77% delas têm quadra de esportes. Nas escolas de ensino fundamental, o percentual é de 44%. No ensino infantil, 26%.
Bibliografia
Foto 1– reprodução Instagram Mia Lopes/Foto 2– João do Pulo quebrando o recorde mundial do salto triplo nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, em 1975-GloboEsporte-Brasileiros na História. Foto 3-reprodução LinkedIn Mia Lopes//Censo Escolar de 2020/Desafios da educação
Sobre a reportagem
A entrevista faz parte da composição de um trabalho acadêmico para os estudos de jornalismo esportivo, lecionado pela professora Leda Maria da Costa no Centro Universitário Carioca (UNICARIOCA).