Reportagem Cultural

Apresento a vocês um dos meus trabalhos acadêmicos, para a aula de história da arte. O projeto era construir uma revista escolhendo alguma época ou obra importante de todos os períodos já estudados.Então decidi escolher a imagem icônica de “O Grito” de Edvard Munch e sair as ruas para entender o que significa arte para as pessoas e o que ela transmite. Espero que gostem, eu amei fazer e ver as diferentes opiniões e descobertas. Não deixem de comentar. Boa Leitura.

A arte de se expressar

Como a arte e interpretada nos dias de hoje e como as pessoas a usam para se expressarem

Imagem de “O Grito” de Edvard Munch

Como as pessoas veem a arte nos tempos de hoje e como elas se expressam artisticamente?

Foram esses os questionamentos que nos fizeram ir às ruas em busca de respostas e escolhemos a dedo e período expressionista para fazer essa experiência, pois foi uma das épocas mais importantes e impactantes da história da arte. 

Vamos contar um pouco como foi esse período que começou no século XX na Alemanha e foi um dos movimentos artísticos mais conhecidos até hoje, ele é o famoso período expressionista que percorreu por diversos campos artísticos principalmente pela pintura. Seria uma nova forma de entender a arte, reagindo ao positivismo associado a um pessimismo e naturalismo, ou seja, os artistas daquela época queriam mostrar o que se passava em seu interior, o subjetivo que está com sentimento,o movimento defendia a liberdade individual de cada artista e era usado para revelar o lado pessimista da vida.

Querendo entender melhor o que causa a arte expressionista escolhemos o quadro “O Grito” de Edvard Munch. Essa obra representa uma figura andrógina em profunda angústia e desespero, é considerada uma das obras mais importantes deste movimento, como o próprio movimento já disse é uma obra expressionista que revela o que se passava na mente de Munch que teve uma vida pessoal conturbada, e desses altos e baixos de sua vida tirou sua inspiração para criar a coleção de obras um tanto quanto assustadoras, dentre elas a obra “O grito” que para época junto às outras foi considerada perturbadora demais para a sociedade, sendo retirada da exposição.

Sabendo que o quadro é um ícone e causa sentimentos variados fomos a ruas abordar pessoas comuns e saber delas um pouco sobre arte nos dias de hoje e encontrar respostas para nossas perguntas. Fizemos a mesma experiência com todos, primeiro perguntamos se conheciam o período expressionista e, se reconheciam a obra de Munch e como se sentiam diante dela. Fomos além e buscamos também encontrar referências na vida moderna, com que olhos e vista a arte e como se expressam diante dela, essa busca nos trouxe respostas incríveis e variadas sobre a visão da arte e cultura e vimos a disparidades de opiniões e visões de algumas pessoas.

Nossa primeira entrevista foi com a dentista Juliana que afirmou não ter conhecimento sobre artes plásticas e não saberia falar sobre, mas logo reconheceu a obra de Edvard Munch. Quando perguntamos a ela sobre o que a obra lhe transmitia, ela nos disse que sentia desespero e acreditava que o autor queria expressar o pânico que estava vivendo no momento que “com certeza era um momento péssimo” disse Juliana e que ainda acredita que a arte mudou que na época colocavam mais emoção no que faziam ao contrário das obras de hoje definindo a arte plástica como comercial, deixando-a superficial.

“Com certeza era um momento péssimo”

Conversamos também com Mario Luiz que descreveu a obra “O Grito” como perfeito e nos conta que  frequentemente vai ao teatro e leva seus filhos, e afirma que para ele “cultura é teatro”, aprecia músicas no metrô e capoeira mostrando que a arte e cultura se expressam pelas mais diversas áreas, mas criticou a falta de investimento e em divulgação.Exemplificou que a inauguração de um teatro em São Gonçalo onde mora e acabou notando que não foi muito divulgado, pois mesmo estando próximo e apreciando teatro apenas ficou sabendo de sua inauguração através de um amigo que lhe informou.

Por último falamos com Daniele Moura de 24 anos que ao ser questionada sobre arte nos revelou que gosta da arte da dança, e ao observar o quadro destacou que há um contraste entre o fundo da pintura e a imagem principal que descreveu como andrógina e lhe chamou muito sua atenção, principalmente pela forte expressão da figura. Daniele e acredita também que é algo pessoal do autor que ele quis colocar na pintura que pode um surto durante sua rotina normal e relaciona diretamente com sua própria vida pessoal na dança, nos conta que faz pole dance e como seus companheiros da dança se reúnem com este mesmo objetivo, explica que há preconceito com este estilo de dança e acabam se expressando somente entre si e reafirma que as pessoas ainda têm muita dificuldade em se expressar e falar o que estão sentindo e usam a arte como uma válvula de escape.

“A arte é uma válvula de escape”

Como é a arte pelos olhos de um artista?

Para saber mais sobre a arte de se expressar e o que ela nos transmite, falamos também com o artista Diego Guevara, que e formado em artes pela Universidad Nacional de Colômbia e fez pós graduação no Rio de Janeiro na Escola Brasileira de Artes (EBA-UFRJ).

Como conhecedor do quadro também fizemos questão de saber dele o que sente diante da obra de Munch, e então Diego conta que o quadro lhe transmite uma compreensão da imagem muito interessante, destaca que a composição é genial, a distribuição dos elementos no quadro, a figura gritona em primeiro plano, depois essa perspectiva solitária e no fundo esses caras, de outro modo nos disse que também lhe transmite “movimento”, o fluxo das coisas. Observa que a pincelada é leve mas poderosa, levando Diego a um grande drama, engrandece Munch como grade colorista, pois diz que as cores são incríveis.De toda a pintura o que mais o surpreende e a composição muito bem lograda, simples efetiva, revela que acha a obra muito sugestiva ou até mesmo provocativa.

“…esses cinzas,marron,preto e suas misturas são o trabalho de um grande colorista, é uma alta imagem…”

Sobre suas inspirações Diego diz não fazer um link direto com o Expressionismo, embora tenha alguns de seus elementos em comum como a deformação da imagem, o esticamento dos corpos, a procura pelo movimento. Conta que não acha sua arte tão dramático quanto o Expressionismo,mas que acharia interessante ser um pouco mais dramático. e também compara o movimento ao ritmo da natureza.

“O expressionisml tem os ritmos da natureza que eu gosto”

Mostramos à Diego o resultado da experiência que fizemos e as opiniões dos populares, e perguntamos como ele enxergava a interpretação das pessoas sobre a obra e o período expressionista. Analisou uma por uma e fez alguns destaques, sobre Juliana nossa primeira entrevistada ele gosta ao ver que mesmo afirmando que não saberia nada sobre artes plásticas identificou a imagem de O grito, embora sua afirmação sobre a comercialidade e superficialidade não tenha o agradado muito, ressalta que todas

 as épocas tiveram arte de qualidade ou obras interessantes, como também autores ou criações mais fracas, não gostou da generalização que Juliana faz, destaca que a comercialidade é um risco implícito das obras de arte mesmo em sua natureza mais austera, e que não necessariamente reflete superficialidade.

Sobre Mário Luiz, Diego observou pelas suas palavras e lhe pareceu mais interessante, apreciadora e sensível, ele compara o teatro que é uma grande arte as artes plásticas, porque que em várias ocasiões se encontram em linguagens como a performance ou a instalação e a galera que faz o figurino na dramaturgia se encontra com as artes visuais, para ele ambas fazem referência a uma discussão estética dada sobretudo nas vanguardias artísticas dos começos do século XX, por exemplo no teatro Expressionista. Diego concorda com Mario quando fala da falta investimento, e se entristece  por que está ainda pior pois estão sendo cortando o pouco que se tem, lembra que um tempo atrás já estavam cortando, embora no atual governo Bolsonaro estão dando algo que ele define como uma “facada definitiva”.  

Ao ver o depoimento de Daniele, também lhe  pareceu interessante e sensível, gostou de sua leitura do quadro do O Grito como um “surto”. Acha uma grande arte a dança do pole dance,descreveu que precisa de intenso preparo físico, força nos braços para carregar o corpo nas barras, e elasticidade para se deslocar .Também vê  preconceito, embora ele goste da ideia que o estilo se relaciona de alguma maneira com o erótico, como símbolo acha interessante,acredita que o preconceito que destaca como idiota se dá por toda comparação erótica como ao homossexualidade ou a prostituição.Relata que as artes plásticas também sofrem preconceito ou censura quando enfrentam o corpo à sua sensualidade. 

Como Diego já demonstrou ficar insatisfeito com a opinião sobre superficialidade e comercialidade, pedimos que falasse mais sobre o assunto, e ele já nos explicou que existe um mercado da Arte, o mais ostentoso dominado por galerias, banqueiros, colecionadores e milionários, sobretudo em grandes cidades como New York, Paris ou São Paulo.Como mora no Rio de Janeiro também conta que tem várias galerias e eventos públicos e privados para comercializar produtos artísticos. Diego se aprofunda mais e diz que dessa forma a Arte também se vê dentro de esferas e teorias econômicas como a especulação financeira e alguns artistas como Damien Hirst (polêmico artista britânico) que se engajam em um “jogo econômico” como parte do processo de criação. Abordou até Marx em sua explicação  destacando que o filósofo dizia que a Arte é um tipo de “hiato” dentro do mundo das mercadorias, é um produto com certos riscos específicos, exemplificou a ambivalência dos preços de uma obra de arte baseadas em referências históricas e culturais, ou se o autor já é reconhecido ou se está morto. Sobre a questão da superficialidade acha bem subjetiva,para ele é um adjetivo difícil de descrever ou segurar, lhe parece pejorativo embora as artes tem muito a ver também como as aparências e o superficial.Afirma que com certeza as obras mais comerciais são mais divulgadas, embora o campo da arte também se vê como uma área de pensamento filosófico-científico, então a produção mental e não só a visão da arte-mercadoria e sobretudo mais trabalhada nas faculdades de arte ou museus sem interesse de lucro.

Como já havia citado sobre os cortes que estão tendo afirma que vão caindo muito, são menos prêmios, bolsas, concursos, e espaços que agora se tem. Em relação ao seu trabalho conseguiu expor em alguns museus aqui no Rio, nem sempre se ganhou dinheiro com exposições e que muitas vezes o artista trabalha de graça. Para os artistas que buscam por recursos podem 

encontrar através de bolsas de estudo oferecidos por escolas públicas, mas se encontra na maioria colecionadores privados que buscam investir.

O que a História tem para nos contar sobre Arte

Conversamos também com  Rodrigo Elias Caetano, Doutor em história pela UFF-RJ, pedimos a ele para analisar nossa experiência em um contexto histórico. Iniciamos perguntando sobre a interpretação dos populares naquela época que surgiu o expressionismo e como as pessoas interpretam a arte hoje.

Rodrigo inicia nos explicando que os artistas do Pós-Impressionismo e do Expressionismo, entre o final do século XIX e início do século XX, apostaram em uma mudança na forma de se produzir e de se perceber a arte. Em uma época muito marcada pela desesperança e pelo aumento da pobreza e das tensões na Europa, os artistas abriram mão de representar o mundo tal como ele parecia aos olhos (o que o Impressionismo tentava fazer) e buscaram retratar o sentimento do artista sobre aquele mesmo mundo. Citou exemplos como Van Gogh, Edvard Munch e Pablo Picasso começaram a retratar o que ia na alma do artista, e apostaram que o público apreciador das suas obras também seriam capazes de usar seus próprios sentimentos para decodificar suas mensagens. O professor salienta que um dos traços marcantes daquele contexto de produção artística também era a arte voltada para pessoas “comuns”, trabalhadores e trabalhadores e que não tinham necessariamente uma formação sofisticada em artes, de modo que ainda hoje muitos dos quadros daquela época conseguem dialogar com diferentes sentimentos dos públicos das mais variadas categorias. 

Ao nosso pedido nos elucidou sobre a comercialidade das obras e esta confusão que fazem sobre superficialidade e diz que muito se discutiu sobre a chamada Indústria Cultural e sobre a necessidade, dentro do mundo capitalista, de se transformar todos os tipos de produção humana em mercadoria vendável. Com a arte, é claro, não é diferente. Revela que é muito comum que as obras mais divulgadas sejam aquelas de grande apelo comercial, e muitas vezes artistas acabam deixando de fazer o que consideram mais necessário para produzir apenas aquilo que vai agradar o mercado. Há, entretanto, por conta da variedade de canais disponíveis para a divulgação de obras de arte, a possibilidade ainda de divulgação de obras artísticas realmente inovadoras e que podem ter um grande impacto sobre o público. Diz que de mesmo modo, o público amplo – e nem sempre “especializado” na crítica de arte – também é capaz de interpretar de forma inovadora mesmo aquela arte mais comercial, atribuindo novos sentidos, e mesmo demandando uma produção artística que fuja das produções cotidianas mais adequadas à lógica do mercado. Enfim, embora ainda exista um grande predomínio de uma arte que busca uma certa superficialidade, ainda há espaço para produções complexas que podem dialogar com o público.”

Ao falar sobre nossa pesquisa e suas divergentes opiniões Rodrigo ressalta que obra de arte não é um objeto acabado ou inerte. Embora um pintor ou uma pintora possa ter colocado na obra o seu sentimento ou a sua “intenção” em um dado momento da vida, a recepção da obra sempre depende daquele ou daquela que a observa.Destaca que assim, toda obra de arte acaba sendo potencialmente “polissêmica”, ou seja, portadora de diversos significados. Cada indivíduo possui uma história, possui suas próprias afinidades, sentimentos, gostos… Tudo isso vai influenciar a forma como a obra será recebida. Ele nos fala um pouco sobre o quadro de Munch, e explica como pode se dar diferentes interpretações e nos explica que  embora o próprio autor tenha procurado retratar um sentimento de desespero e solidão – como o mesmo chegou a relatar -, pode chamar mais atenção pela ideia de movimento por conta da sinuosidade das pinceladas, ou pode despertar diferentes sentimentos por conta das cores fortes ou brilhantes. Esta é uma das grandes características da arte: nunca existe um manual definitivo para sua interpretação, e as diferentes visões que as pessoas possuem sobre a mesma ao longo do tempo garantem a sua permanência no nosso imaginário.

XPedimos para o Rodrigo falar um pouco também sobre o investimento em arte, como foi questionado por um de nossos entrevistados e nos contou que os investimentos governamentais na cultura e na arte sempre são fundamentais para o desenvolvimento de sociedades saudáveis e criativas. No Brasil, infelizmente, poucas iniciativas nesse sentido tiveram lugar ao longo de toda a nossa história. Atualmente, o cenário é ainda mais tenebroso. Em um cenário de crise econômica, o setor da Cultura tem sido visto como um peso – embora o orçamento da área seja mínimo quando comparado com outras áreas como o agronegócio e a segurança -, o que tem acarretado cortes que comprometem o funcionamento de instituições como museus e teatros, bem como iniciativas como exposições, cursos e produções audiovisuais em geral. Além da questão econômica, atualmente uma onda conservadora tenta estigmatizar e mesmo criminalizar diversas expressões de liberdade artística, e fechamento de exposições em museus, interrupção de exibições cinematográficas e performances artísticas em geral estão se tornando cada vez mais comum – é, o mais triste, com o aval de diversas instâncias governamentais. É preciso, neste cenário, que a própria sociedade, através de diversas formas de mobilização, deixe claro que cultura e arte não são elementos dispensáveis, e que a produção nesta área é fundamental para que prossigamos na longa e interminável tarefa que é a construção de uma sociedade mais justa, na qual todos e todas tenham acesso ao patrimônio artístico e cultural que, enfim, é o que nos torna humanos

Aqui temos mais uma das obras de Diego Guevara…

Descrição da obra;

“A coruja pousa na pedra e a pedra parece ter contorno de coruja. Fiz o desenho prevendo a presença do animal na frente de um observador que a visse chegar voando, fizesse a semelhança e percebesse um certo acaso, porque a coruja chegou aí? A coruja buraqueira faz seus ninhos em buracos embaixo das pedras, seu retorno a esse lugar era um fato previsível, a coincidência era um tipo de ficção do devir envolvendo lugar e instante. Casualmente a palavra instante provém do latim instãre o qual significa “estar sobre” ou “acima de”.

Publicado por eulumello

Olá, sou Luciene e aqui está meu site com meus atributos profissionais. Sou estudante de jornalismo, amante da arte de ensinar através da informação.

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